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Pesquisa da Embrapa desenvolve primeira cenoura para cultivo orgânico

Publicado 12/02/2020 às 04:05
Cultivar BSB

Cultivar BRS Paranoá   |  Fotos: Agnaldo Carvalho 

Uma nova cultivar de cenoura pode aumentar a produtividade e facilitar o cultivo da raiz em sistemas orgânicos de produção. Resultado de uma pesquisa da Embrapa, a cenoura BRS Paranoá é, de acordo com a instituição, a primeira cultivar do mercado nacional desenvolvida e validada exclusivamente para a produção orgânica. É recomendada para plantio no período do verão, época de entressafra das cultivares convencionais.

“A BRS Paranoá é uma cultivar de polinização aberta que possui duas características fundamentais para a produção orgânica: a alta resistência à queima-das-folhas, principal doença da cultura, e o padrão de qualidade de raiz, com coloração laranja intensa, aspecto liso e formato bem cilíndrico”, descreve o pesquisador Agnaldo Carvalho, da área de Melhoramento Genético da Embrapa Hortaliças (DF).

Segundo ele, as raízes da nova cultivar atendem também ao padrão comercial exigido pelo mercado consumidor: têm de 16 cm a 20 cm de comprimento e por volta de 3 cm de diâmetro. “Ou seja, não cabe mais o comentário sobre cenouras orgânicas serem pequenininhas. A BRS Paranoá tem uma raiz graúda e com ótima aparência visual”, reforça Carvalho, acrescentando que, embora seja um nicho, o mercado consumidor de cenoura orgânica tem uma parcela cativa e crescente, com capacidade de expansão estimada em 20% ao ano.

“O mercado orgânico é bem diversificado. Geralmente, os produtores cultivam inúmeras espécies de hortaliças para ofertar um mix aos consumidores e, sem dúvida, a cenoura é um item obrigatório nessa cesta”, pondera o engenheiro agrônomo Francisco Vilela, pesquisador da área de Fitotecnia e Agricultura Orgânica da Embrapa Hortaliças.

Cultivar mais resistente
A Embrapa afirma que as doenças foliares estão entre os fatores mais limitantes para o cultivo de cenoura no Brasil. E a cultivar BRS Paranoá, mostrou a pesquisa, destaca-se pela alta resistência ao complexo de bactérias e fungos causadores da queima-das-folhas. A característica, na avaliação do órgão, minimiza a necessidade de medidas de controle da doença na agricultura orgânica.

Quando comparada aos híbridos de cenoura, o desempenho da nova cultivar surpreende, porque ela não precisa do mesmo aporte de insumos para atingir resultados semelhantes. De acordo com o pesquisador Carvalho, a resposta dos híbridos costuma ser positiva em cultivos intensivos sem restrição no uso de insumos, isto é, quando há grandes aportes de adubos químicos e de agroquímicos para controlar as doenças foliares.

Já a BRS Paranoá, diz a Embrapa, atinge os mesmos patamares de produtividade e suporta a queima-das-folhas sem a necessidade de utilizar qualquer defensivo agrícola. “Ela alcança o período da colheita aos 90 dias após a semeadura, com desfolhação mínima e zero fungicida, diferentemente dos híbridos convencionais, cuja produção só é possível com a utilização de pesticidas”, compara Carvalho.

O que é a queima-das-folhas
É uma doença ocasionada por um complexo formado por fungos e bactérias que causam lesões nas folhas de cenoura. Os fungos Cercospora e Alternaria e a bactéria Xanthomonas podem ocorrer separadamente ou associados em uma mesma lesão. Eles causam a desfolha e, dependendo do grau de severidade da doença, pode haver a morte da planta e a perda total da lavoura.

Regiões produtoras
Cenoura_cultivo_orgânico_Agnaldo Carvalho
A validação da cenoura BRS Paranoá ocorreu ao longo de vários anos, entre 2010 e 2016, em diferentes regiões produtoras do País, em especial nos estados de Minas Gerais, Bahia, Santa Catarina e no Distrito Federal.

Os testes, informa a Embrapa, abrangeram sistemas orgânicos tradicionais, propriedades em fase de transição agroecológica e sistemas de corredores agroecológicos, nos quais foram obtidas produtividades superiores àquelas alcançadas pelas cultivares de cenoura geralmente plantadas no sistema orgânico. “Podemos dizer que a recomendação da cultivar BRS Paranoá também se estende para outros sistemas de base agroecológica, como permacultura, agricultura natural e agricultura biodinâmica”, acrescenta o pesquisador de Fitotecnia, Francisco Vilela.

A nova cultivar, então, foi considerada pelos pesquisadores como uma boa alternativa para agricultores que adotam o sistema orgânico de produção ou mesmo para produtores que buscam sistemas de cultivos mais sustentáveis. “O caminho está aberto para a cenoura BRS Paranoá, seja no sistema orgânico, em segmentos que não endossam o uso de híbridos, ou para pequenos agricultores convencionais, que têm interesse em materiais OP pelo valor mais acessível das sementes”, pontua Vilela.

Disponibilização para o setor produtivo
Plantio cenoura_cultivo_orgânico_Agnaldo Carvalho
A nova variedade de cenoura é resultado do projeto Desenvolvimento de cultivares de cenoura adaptadas ao cultivo de verão nas principais regiões produtoras do Brasil – Fase II, executado pela Embrapa Hortaliças.

A tecnologia foi registrada no Registro Nacional de Cultivares (RNC), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), e também está protegida pelo Sistema Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC), do mesmo ministério.

No primeiro semestre de 2020, será lançado edital de oferta pública de sementes da variedade para que empresas possam fazer o licenciamento da tecnologia e adquirir o direito de multiplicar e comercializar sementes. “Nosso principal objetivo é que empresas se interessem em produzir sementes de cultivares de cenoura livre de tratamentos químicos para que consigamos, assim, atender a demanda do setor produtivo por sementes orgânicas dessa hortaliça”, detalha Carvalho.

Próximos lançamentos
No horizonte da pesquisa, Carvalho adianta que estão previstos lançamentos de novas cultivares de hortaliças recomendadas exclusivamente para a agricultura orgânica. “A expectativa é que, nos próximos três anos, façamos a disponibilização de cultivares de espécies como abóbora, alface, batata, cebola e alho – todas desenvolvidas e validadas para o setor orgânico”, conclui.

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